quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

MAS


Boa noite, pessoas. Hoje resolvi encarnar o dono do "De Dentro pra Fora" e postar uma coisa mais séria por aqui. Não que o que eu tenha postado até hoje não tenha seu lado sério, mas quero tratar de uma coisa que sofre muito preconceito nos dias de hoje, e que eu amo muito, música pop. Mais especificamente do novo trabalho do ex-menudo e porto riquenho, Ricky Martin.

Vamos admitir, o preconceito com música pop é grande e com música pop latina é bem maior. A questão é que, como eu já provei antes, a música pop faz, de certa forma, o papel que o rock fez nas décadas passadas: transgredir. São os artistas pop que rompem as barreiras, claro, de forma comercial, também. Mas você acha que os Beatles não estavam interessados no dinheiro, também? Pois é. É hipocrisia, nos dias de hoje, dizer que se faz arte só porque ama. Isso é o essencial, mas o dinheiro é um benefício. Enfim, voltando ao preconceito: Eu confesso ter tido preconceito com Ricky Martin a minha vida inteira, achava que ele seria o próximo Sidney Magal, de tão brega que ele era. Breguisse que, eu acredito, tenha se explicado depois que ele se assumiu.

Ah, sim. Esse é o ponto mais importante nesse post: Ricky Martin se assumindo. É esse o ponto inicial. Um homem na casa dos 30, um homem público, um sexy simbol saindo do armário depois de tanto tempo de carreira. Imaginem, a ação de se assumir como homossexual é um assunto muito complicado, ainda mais para uma pessoa que está a vida inteira no olhar do mundo. Ricky Martin passou anos tentando esconder a verdade, até que, há mais ou menos um ano, ele resolveu que tinha que ser sincero com os fãs. Só isso? Não. Ele decidiu que tinha que ser sincero consigo mesmo, decidiu deixar os preconceitos que ele mesmo carregava, junto com seus medos, e ser quem ele realmente é. Ele não é o primeiro a fazer isso na música pop, preciso citar Christina Aguilera em Stripped? Pois é.

O movimento de "sair do armário", não só para os homossexuais, é algo que requer muita coragem, muito amor próprio e muito jogo de cintura. E esse homem mostrou ter isso de sobra. Escreveu um livro (que eu ainda não li, mas pretendo) falando sobre esse movimento em sua vida, e, é claro, escreveu um novo álbum para lançar. E é desse álbum que quero falar aqui. Lançado no começo desse mês de Fevereiro o álbum MAS, é uma das grandes preciosidades da música pop contemporânea, na minha opinião. Eu vi apenas um álbum tão sincero quanto esse na vida, Stripped, e os comparo aqui. Não quero questionar a qualidade musical de nenhum dos dois álbums, mesmo porque não sou musico pra fazer isso. O que vale a comparação é a idéia que permeia o álbum. Para mim MAS é um verdadeiro grito, que vinha estado preso há tempos dentro de um coração humano.

Estamos num momento histórico-filosófico (por favor, MP, me corrija se eu estiver errado) em que o movimento humanista vem tomando muita força. Humanismo no sentido dos direitos humanos, da tolerância e da igualdade. Ideias Iluministas que voltam a ficar fortes nos tempos contemporâneos. A maior parte dos trabalhos pop que vem sido lançados, pelo menos no último ano, falam, sobretudo, de igualdade e tolerância. Músicas como Firework, Fucking Perfect e, até mesmo, a cópia deslavada que é Born This Way, vêm aos olhos e ouvidos dos espectadores como um manifesto reflexivo que tem como objetivo chocar as pessoas. É a mesma coisa que a Filosofia Iluminista se propunha a fazer no século XVIII.

Ricky Martin coloca suas emoções pra fora em forma de música num CD que se liga, conta uma história sobre Música, Alma e Sexo. Incluo a Filosofia no meio disso. O álbum é nada mais do que um manifesto pela tolerância, igualdade e liberdade nos dias de hoje. Um verdadeiro soco contra a homofobia, xenofobia e outros tipos de preconceitos que fazem questão de se prender à nossa sociedade. Em pleno século XXI, esse tipo de manifesto ainda se faz necessário, algo que não deveria acontecer. O melhor seria que CDs como esses jamais tivessem sido idealizados e lançados, ou que o tivessem sido há, pelo menos, um século. Sobre o título do álbum, representa aquilo que move o homem contemporâneo, música, alma e sexo. Platão, Aristóteles, Freud, Rousseau e tantos mais. Um grito pelo direito de ser feliz, ou de pelo menos buscar a felicidade num mundo Democrático, ou quase isso. A vontade de viver a vida que o álbum inteiro transparece é inspiradora à todos aqueles que acham que tudo está acabado, e que não há mais motivos para se lutar ou ficar vivo. Volto a comparar com Stripped. O único álbum que tinha me causado tal sensação um dia.

MAS é, portanto, uma questão filosófica, sociológica, psicológica e histórica que se faz necessária hoje: Mas, por que tem que ser assim? O conformismo é inevitável, sim. Isso é uma coisa que eu não achava, mas ele é. Mas, ele tem que ser controlado, conformar-se com a intolerância é algo fora de questão. Conformar-se com a desigualdade é, tanto quanto, fora de questão. Dou um dez ao CD e à Ricky Martin, que disparou no meu conceito, por ver um homem homossexual falando abertamente de seus sentimentos relacionados ao sexo, à alma, à música, à vida, e mesmo que ele não saiba, à filosofia, à psicologia, à sociologia e à história. Acredito que mesmo que o autor de um trabalho como esse não tenha uma formação dessas, isso não diminui o valor cultural e até academico de seu trabalho. Se formos esperar até que a Academia aceite a música pop como uma forma de Filosofia, espararemos sentados. Poucos artistas ainda conseguem causar esse efeito de reflexão nas pessoas, poucos trabalhos pop o conseguem. Mas, ainda temos quem os faça. E é assim que a humanidade continua, progredindo ou regredindo, não temos como falar isso agora, mas estamos em movimento graças à artistas como esse que colocam suas ideias para fora.

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Pois de médico e louco, todo mundo tem um pouco!