domingo, 31 de janeiro de 2010

autenticidade

To lendo um livro chamado "Escarafunchando Fritz". Quem é dá área psi provavelmente já ouviu falar, se trata da auto-biografia do Fritz Pearls, muito boa por sinal, além de interessante é muito engraçada. E esses livros mais fenomenológicos ou humanistas, que não tratem apenas de teoria, às vezes são assim... muito naturais, digamos. A pessoa simplesmente escreve o que vem na cabeça naquele momento e assim vai surgindo o livro, não é aquela coisa de volta, lê, arruma, muda, relê, apaga, etc. É como se vc estivesse escrevendo à caneta e não quisesse rasurar, vc escreve, escreve, comenta, escreve. Isso me fez pensar... Por que normalmente não escrevemos assim? Digo, agora mesmo, fico constantemente me interrompendo, procurando o que dizer, procurando ser interessante, pensando no que as pessoas vão pensar... Isso torna a escrita uma coisa chata, o ato de escrever fica massante... Pelo menos pra mim... Não que ser natural seja uma coisa fácil na minha opinião... Mas puxa, por que não podemos ser simplesmente nós mesmos? Antigamente eu achava que a melhor coisa era ser honesta, ir direto ao ponto e sempre ser eu mesma, mas depois de tanto quebrar a cara, vi que o mundo não aceita a gente do jeito que a gente é e que quem deve nos aceitar somos nós mesmos, isso é o mais importante.
Honestidade demais não é bom hoje em dia, vc pode quebrar a sua cara, e muito, sendo honesto demais. Nesse livro, Fritz cita um conto, chamado "A Nova Roupa do Imperador", no qual todos estão hipnotizados, mas a criança não, ela não tem ilusões. Para ela o imperador está nu, enquanto que para os adultos isso é uma audácia, pois a roupa do imperador é linda, só a criança, estúpida, não vê.

Criança assombrada, o mundo ruiu.
"Posso confiar nos meus sentidos?
Eles não me amam se enxergo!
Preciso mais do seu amor do que da verdade.
Difícil engolir, mas esta é
Minha primeira aula de adaptação."

Achei genial, somos ensinados a não dizer o que pensamos e vamos escondendo tanto o que percebemos e sentimos que, com o tempo, achamos que sentimos e pensamos outra coisa e vamos nos enganando... Isso resulta numa máscara que fica tão fixa que nós próprios acabamos achando que se trata do nosso rosto e assim, vamos mentindo pra nós mesmos. O problema de viver assim é a série de dificuldades que isso nos traz. Muitas das doenças e dos sintomas das pessoas hoje em dia resultam disso. Às vezes tenho a impressão de que, de um modo geral, as pessoas estão cada vez mais infelizes. É claro que existem muitos outros fatores interferindo também, mas acho que se pudéssemos, ou melhor, escolhêssemos viver de modo mais autêntico, seríamos muito mais felizes.
Existem milhares de maneiras de nos sentirmos melhor (livros, terapias, remedinhos, pequenos vícios, grandes vícios...), muitas dessas maneiras na verdade são sintomas, outras são realmente boas e eficazes quando utilizadas na hora certa, porém o mais importante é eu mesma me conscientizar, para a partir daí repensar a minha vida. Sei que encho um pouco o saco com essa história de "vamos pensar", mas eu bato nessa tecla e bato com vontade, precisamos buscar ir além das aparências, se não a máscara não desgrudará mais e nunca mais conseguiremos tocar nossos próprios rostos.

(Dôtora)

Uma Observação por Insônio: O post não é meu, mas eu vou me meter.
Acho que a Dôtora está certa em grande parte do que ela disse, enquanto eu ia lendo o post, fui pensando em muitas coisas, e o que mais me vem a cabeça são as máscaras de Freud, as Personas. E eu costumo muito usar essa teoria em artistas, principalmente as mulheres e as que eu gosto. Como as pessoas assumem identidades diferentes dependendo do seu estado de espírito, dependendo de como estão naquele momento.
Veja bem, eu tento ao máximo ser eu mesmo sempre que posso, por mais que isso possa vir a chocar algumas pessoas às vezes, talvez pelo meu modo de agir ou o meu modo de pensar. Eu estava conversando com a Meio-Psicopata hoje, sobre o post dela (esse aqui embaixo), e comentei uma coisa, e só percebi que realmente era isso quando comentei isso com ela: eu aprendi a não ter medo de gente. Eu sempre tive mil motivos para ter medo das pessoas, hoje eu não tenho mais. Porque eu consigo ser eu mesmo e não me importar com o que as pessoas vão pensar, eu escrevo assim, escrevendo, sem voltar e concertar, e escrever assim é a forma que eu mais me expresso, expresso minhas ideias.
Acho que antes de usar todas essas Personas que usamos, temos que achar nossa verdadeira Persona, mesmo que essa seja uma mistura de todas as muitas que usamos. E ser um mix de tudo isso não nos faz menos originais ou menos nós mesmos do que se usássemos apenas uma, e fôssemos sempre a mesma coisa.
Viajei, não? Termino minha Obs com uma frase, que acredito ser conhecida de todos, do grande e eterno Raul Seixas: "Prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela mesma velha opinião formada sobre tudo".

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Pois de médico e louco, todo mundo tem um pouco!