sábado, 14 de agosto de 2010

"Por um eterno e novo verão vermelho..."




Começo esse texto com um aviso: leia. Não importa quem você seja, não importa quantos anos você tenha, não importa a sua crença, não importa nenhum dogma imposto em sua vida, apenas... Leia.

Hoje, falarei sobre muitas coisas de uma vez, mas dentro de um mesmo assunto: O espetáculo musical de Charles Möeller e Cláudio Botelho, O Despertar da Primavera, que ficou em cartaz no Rio no ano passado e esse ano em duas temporadas aqui em São Paulo. Eu venho com vontade de assistir desde que soube de sua estréia no Rio, e logo recorri às pessoas que eu sei, provavelmente, me acompanhariam: Aimi e MP. Demoramos e esquecemos, logo a temporada foi cancelada por falta de patrocinio, o que eu não entendi na época. Depois houve a alegre notícia de que o espetáculo voltaria em Julho numa curta temporada no Teatro Frei Caneca, e dessa vez eu sabia: não podia perder, mesmo. Há menos de uma semana recorri à MP no MSN e disse-lhe que íamos comprar os ingressos essa semana. E lá estávamos nós dois na última terça, compramos para sexta, considerando que essa foi a última semana, resolvemos ir bem em cima da hora.

O dia de hoje (sexta), foi um tanto quanto corrido para a minha pessoa. Me debandei para as terras proletárias-estudantis da MP (lê-se USP) com o Sr.Henrique e a MeninAmanda, almoçamos pastel e depois fomos embora. Mas, claro, vivemos em São Paulo e isso é sinônimo de trânsito. Eu literalmente dei uma volta na cidade pra conseguir chegar na minha casa, tomar o banho mais miserável da minha vida e ir pro teatro encontrar a MP. Chegando lá vimos a lojinha muito rápido e entramos. Depois de algumas conversas sobre os atuais acontecimentos de minha vida as luzes se apagaram e a peça começou.

A Alemanha de 1891 em plena repressão sexual aos jovens, é esse o pano de fundo onde se passa toda a história dos jovens Melchior, Wendla, Moritz, Ilse e seus amigos. Cada um, de sua forma, descobrindo sua adolescência. Sim, pois os personagens principais são adolescentes com no máximo, talvez, dezoito anos. No meio de todas as descobertas que a adolescência traz, junto com isso nós recebemos de brinde milhões de tormentos e confusões que mexem com nossas cabeças, ainda mais em uma época tão difícil com a que a história se passa. O musical foi montado na Broadway originalmente em 2006, e já faz parte do circuito internacional de musicais por aí, acompanhando grandes nomes como "O Rei Leão", "O Fantasma Da Ópera" e "Hairspray". A história original é do escritor alemão Frank Wedekind (1864-1918). Em sua estréia a peça, obviamente, foi censurada na Alemanha, e depois de muitas conturbações foi encenada na íntegra pela primeira vez em Londres em 1974 se tornando um enorme sucesso.

Entre todas as coisas que mais chamam a atenção no espetáculo, os jovens atores-cantores, são o que dão vida à peça e à toda a conturbação que a envolve. A temática que parece muito antiga, envolvendo a repressão sexual dos jovens (como eu já disse), a falta de diálogo entre pais e filhos, o incesto, o estupro, o suícidio, a hierarquia estudantil, o relacionamento professor-aluno, as grandes confusões da adolescência, que na maioria das vezes soam como verdadeiras besteiras aos adultos que parecem ter se esquecido que já passaram por essa fase, mas acabaram por se conformar com tudo o que lhes foi dado, é, na verdade, extremamente atual por se tratar de tantas coisas que ainda acontecem todos os dias em muitas famílias e escolas, mas que são mais abafadas do que nunca. A peça faz, ao meu ver, uma crítica muito bem colocada à nossa sociedade atual que consegue ser extremamente hipócrita quando se trata de coisas como essas. Uma das cenas mais belas e divertidas do espetáculo é uma cena onde os jovens Ernst e Hanschen (dois meninos, só pra traduzir) se beijam, ainda é um dos momentos com o menor número de aplausos, apesar de sua beleza e realidade.

Numa montagem impecável com uma trilha sonora absolutamente incrível e uma história que se passa entre as estações do ano, que fazem uma analogia com o vai-e-vem típico da adolescência, O Despertar Da Primavera é uma obra-prima do teatro-musical e adpatado especialmente para os palcos Brasileiros. Meus parabéns (junto com minhas lágrimas de emoção, confesso) à toda a equipe que fez desse musical uma realidade tão bela e verdadeira. E um parabéns a quem fez as obras gráficas que, além de baratas, são de ótima qualidade. Termino esse texto com duas citações das músicas "Se fodeu!" e "Canção de um Verão".

"Se fodeu, rapaz
E não tem perdão
E não tem mais porta
Pra fugir,
Já se fodeu,
E eles vão tentar
Te esfolar e te cuspir

Blá-blá-blá-blá-blá-blá
Blá-blá-blá-blá-blá-blá
Blá-blá-blá-blá-blá-blá
Blá-blá-blá-blá-blá-blá
Blá-blá-blá-blá-blá-blá
Blá... Vai se foder!"

(dedico essa à todos os Senhores Conservadores que não escutam seus filhos e acham que tudo pelo que eles passam é algo que simplesmente "vai passar", às vezes não passa)

"A nova luz
Já vai chegar
E os olhos das crianças
Vão se abrir e acreditar

E vão viver por nós
E vão soltar os nós
E vão cantar
Em todas as manhãs,
Vão rezar

Por um eterno e novo
Verão vermelho"

Uma boa noite a todos, e uma maravilhosa primavera a todos aqueles que ainda têm a oportunidade de vivê-la. Eu vou ali viver, depois nos falamos.

Insônio
(Diego Blanco)

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Pois de médico e louco, todo mundo tem um pouco!