sexta-feira, 18 de junho de 2010

Filosofia, Metafísica, Bem e Mal, Destino, Televisão e... LOST


Há mais ou menos um mês, quando o último episódio de LOST veio ao ar, eu decidi que era hora de eu começar a assistir, e me perder um pouco também. Fui aos poucos me familiarizando com os personagens, decidindo de quem eu gostava e de quem eu não gostava, em meio a tantos nomes de filósofos no decorrer da série fui criando minhas preferências. Hoje, eu tenho todas muito bem definidas, LOST acabou para mim também, um mês atrasado, mas acabou.

Em meio há muitas coisas cheguei ao último e decisivo episódio, e dentre essas muitas coisas as críticas da maioria das pessoas. Confesso, eu me guardei, não li nenhum artigo, nenhuma matéria, absolutamente nada sobre o último episódio, mas não pude não ouvir as pessoas reclamando dos mistérios não resolvidos que ficaram. Estranho... porque pra mim eles não ficaram. Bem, ficou um sim, mas chegaremos lá. Vamos do começo...

Assim que comecei a assistir, como um filósofo faz com tudo, comecei a procurar indícios de uma certa filosofia. Quero dizer, comecei a assistir LOST preparado para ficar de fato perdido, mais perdido do que todos eles na ilha. Pois bem, encontrei. Minha primeira idéia foi de que aquela ilha, onde coisas tão estranhas aconteciam pudesse ser uma representação do mundo das idéias de Platão, em algumas cenas consegui ver claramente atitudes inspiradas em Hobbes, “o homem é mal por natureza”, e em Rousseau “o homem é bom por natureza”. Sawyer e Jack eram os que mais passavam essa impressão em mim.

Logo, um dos mistérios mais famosos da série se revelou aos meus olhos, a seqüência de números: 4 8 15 16 23 42. Acredito que na própria segunda temporada uma dica já se mostra. Quando os flashes do que aconteceu antes de cada um dos passageiros embarcar no vôo 815, Hurley diz o número de sua poltrona, e adivinhem? O número era oito, enquanto a de Jack era vinte e três. Muitas temporadas depois as coisas começam a ficar mais claras, quando Locke não é mais Locke, e sim o “monstro”, ele leva Sawyer até uma caverna onde Jacob escreveu o nome de cada um dos passageiros do vôo, e numerou a cada um deles. Foram os seis da Oceanic: Sayid, Jack, Kate, Sawyer, Hurley e Sun. Cada um deles representa um número da seqüência, e com isso a teoria que Locke repetiu quase a série inteira para o cético Jack, de que todos tem um destino, um propósito. Os números não são a coisa mais importante da série como muitos pensam, eles são coincidências, números de chamada, por assim dizer.

Falando nisso de todos terem um propósito, nós chegamos à base crucial de toda a série, o Senhor Jean Paul Sartre, que um dia, muito sabiamente, nos disse: “Estamos eternamente condenados à nossa própria Liberdade”. Como assim, Insônio? Ora, é simples: o que Sartre quer dizer com essa frase é que se o destino existe, se ele está aí, nós estamos condenados à uma Liberdade que acreditamos possuir, mas que na verdade não existe. A Liberdade se torna Destino. E é exatamente isso que puxa toda a trama em LOST. Todas aquelas pessoas tomaram escolhas, forçosamente, e chegaram até aquele ponto, chegaram aonde tinham que chegar. É o que papai e mamãe nos dizem desde cedo: você está vivo por um motivo. Deus tem um trabalho pra você. Deus? Deus existe em LOST, e tem até um nome: Jacob.

Se o Destino existe alguém tem de controlá-lo, e lembrando que como estamos condenados à nossa Liberdade e presos por grilhões, nos tornamos incapazes de fazer isso. Por isso surge a figura divina, de um ser supra-sensível. Jacob observou cada uma das pessoas que se tornariam candidatas a protetores da Ilha, e além de observar , protegeu de alguma forma, ou os ajudou em algo, por menor que isso fosse. Jacob os escolheu, assim como Deus supostamente fez com algumas pessoas. Jacob representa a luz, está sempre vestido de branco enquanto está na Ilha, enquanto seu irmão, que não possui um nome, mas vários, assim como o demônio cristão, representa as trevas. Para mim o monstro foi o menos dos mistérios em LOST. Afinal, tal como qualquer outra criatura divina os dois eram quase-imortais. A Ilha concebia essa imortalidade à eles. Falando nisso... e as viagens no tempo? Dizem que é a parte mais viajada de toda a série, que perde o foco. Pois é, mas não é bem assim. Alguém aí já ouviu falar de Física Quântica? Pois ela estuda exatamente isso, as coisas que a Física Clássica não pode explicar, a Quântica tenta. E nesse gênero de Física uma viagem no tempo é possível, por meio do controle das partículas, e se eu não estou enganado, acelerando-as até a velocidade da luz o homem poderia viajar no tempo. Só são desconhecidas as conseqüências.

Uma questão surgiu em algum momento da séria, quando Desmond diz que eles estavam todos mortos e que aquilo era o inferno. Bem, há um filósofo que eu não me lembro quem nesse momento, que questiona exatamente isso, ou se estamos sonhando ou vivendo. A Ilha foi realidade, e todos os flashes que começam depois que Juliet explode a bomba é o que aconteceu depois que cada um deles morreu. Ou será o contrário? Eles não estavam mortos na Ilha? Bem, esse é aquele mistério que eu disse que eu não consegui resolver. Mas, entre esses flashes eu retomei a minha teoria sobre o Mundo das Idéias de Platão.

Nos flashes cada um dos passageiros vive a sua própria vida, segue o seu próprio rumo após o avião não ter caído como deveria ter acontecido, nenhum deles realmente se conhecem, mas no decorrer da história eles vão se reencontrando e a partir de um toque, ou vendo alguém eles se lembram do que aconteceu na Ilha. Isso é a teoria da rememoração que Platão apresenta, ou a dialética ascendente. Platão nos diz que é possível rememorarmos, ou seja, nos lembrarmos de um fato de quando ainda éramos almas no mundo das idéias, a partir de algo que amamos. Por exemplo, quando Kate tem de fazer o parto de Claire ela se lembra que já o havia feito antes, e Claire se lembra de tudo no mesmo momento, em seguida, Charlie, ao tocar Claire se lembra de tê-la conhecido antes. Nós, hoje em dia chamaríamos isso de deja vu mas acreditem, é algo muito mais complicado do que isso.

Nos últimos minutos dos seis anos de LOST descobrimos que Jack morreu ao salvar a Ilha, e que todos ali morreram também, antes ou depois dele. Mas, voltamos à Sartre mais um vez: o Destino. Mesmo que Juliet tenha de fato conseguido explodir a bomba, impedir o incidente eletro-magnético que anos depois faria com que o avião caísse na ilha, de alguma forma todos eles iriam se encontrar de novo, e todos iriam voltar para a Ilha, mesmo que isso acontecesse depois que todos já tivessem morrido. A verdade sobre LOST, por fim, é a seguinte: o Destino nos tem em suas mãos, e nós não podemos mudá-lo, as coisas acontecem exatamente do jeito que elas tem de acontecer, pessoas nascem em certas épocas por motivos que às levaram até aquele ponto, pessoas fazem coisas porque todas as suas decisões já haviam sido tomadas antes. LOST se revelou um verdadeiro poço de Metafísica, a ciência que simplesmente não pode ser explicada, porque vai além do nosso entendimento humano. Se a mensagem de LOST é verdadeira ou não, desculpem, eu não poderei responder, e acredito que nem quem escreveu o roteiro pode, pois no final das contas não há uma verdade. Não há um certo ou um errado, não há um bom e um mal. A verdade, e essa é uma real, é que todos nós caímos numa Ilha, e estamos completamente perdidos, tentando desesperadamente entender o porquê de estarmos aqui, tentando entender quem somos nós, tentando nos conhecer, a verdade é que se LOST quer dizer alguma coisa... bem, acredito que a série tenha sido uma ótima representação da vida. E ainda há muito mais por vir...

Whatever happened, happened.

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